Aluno nota 10 que morava debaixo da ponte enfrenta novos desafios

Sobre a fita que sustenta o crachá de José Luiz Camboim Moni, 18 anos, há dois bótons pendurados. Um informa que o jovem já foi a “estrela do mês” no trabalho em um supermercado. O outro, condecora-o como “caixa 5 estrelas”.
— Mensalmente, escolhem o caixa que teve mais agilidade e atendeu melhor os clientes. Já fui escolhido duas vezes em menos de um ano, por isso as estrelas — orgulha-se.
Para chegar ao posto, o adolescente teve de tirar várias pedras do caminho. Há dois anos, morava com a mãe e dois irmãos em um casebre improvisado, sob uma ponte da BR-116, em Esteio. Contada por Jornal Eco do Sinos em 2013, a história de José motivou ações de solidariedade. O menino, aluno nota 10 da Escola Estadual de Ensino Fundamental Ezequiel Nunes Filho, na mesma cidade, mudou-se para uma residência alugada e, um ano depois, ganhou uma casa própria.



Menino de Esteio que sonha em ser médico conhece casa que vai morar
Embora tenha sido a realização do maior sonho da família, a residência não significou a saída da pobreza. A necessidade de ajudar nas finanças fez José abandonar os estudos. Em novembro de 2014, ele pediu ao cunhado que o levasse ao Sistema Nacional de Emprego (Sine), onde se inscreveu para uma vaga em um supermercado. Foi aceito como operador de caixa em uma unidade do Nacional, em Canoas, onde virou um funcionário exemplar.
— O José nunca chega atrasado e atende bem os clientes. Tem gente que procura o caixa dele, por sua agilidade — afirma o gerente Vilson José Ferreira Rosa.
Quando começou no emprego, o adolescente tinha de acordar às 5h para ir à escola. Após as aulas, pegava um trem e um ônibus para chegar ao trabalho, cujo horário é das 13h às 22h. Em casa, só chegava depois das 23h.
A rotina pesada e as dificuldades com o novo colégio o fizeram repetir o 1º ano do Ensino Médio. Da escola onde dividia a atenção dos professores com 19 alunos em 2013, mudou-se para o Colégio Estadual José Loureiro da Silva no ano seguinte. Lá, o número de colegas dobrou, e o atendimento individual dos educadores tornou-se raro.
— Preferia o outro colégio, não me adaptei muito no novo — diz o garoto.




Estudante que morava debaixo da ponte se muda para casa em Esteio

Acidente de trânsito comprometeu o trabalho da mãe

O adolescente chegou a se matricular novamente na instituição neste ano, mas um acidente sofrido pela mãe o fez parar de estudar. No início de 2015, um caminhão colidiu na traseira da carroça puxada por Tatiana, onde ela levava o filho caçula.
— Quando vi que o caminhão iria bater em nós, eu joguei o Jorginho para fora da carroça. Não tive tempo de pular e acabei voando para fora com a batida. Fiquei desacordada e só recuperei a consciência no hospital — lembra a catadora.
Devido à colisão, Tatiana perdeu parte dos movimentos do braço esquerdo e teve a mão invalidada. Sem condições de guiar uma carroça, a mulher começou a procurar outros empregos. Tentou vaga como varredora de rua, mas não foi aceita. O companheiro, Vanderlei de Oliveira, 54 anos, também catador, assumiu as contas da casa. Outro problema foi a chuvarada de outubro.
A casa teve o piso da cozinha arrastado pela correnteza. Por essas dificuldades, José não deixa o emprego, mas pretende retomar os estudos. O sonho de chegar a um curso superior persiste.



Nos projetos de 2016, voltar a estudar
Mesmo quando chega muito cansado do trabalho, José mantém a rotina de leitura. Pega um dos livros que ganhou de doações e lê até cair no sono. Atualmente, tem na cabeceira uma obra sobre anatomia, herdada da época em que o desejo de ser médico batia mais forte e mobilizou profissionais da Medicina a ajudarem o garoto.





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